A dose certa de humor: como usar em apresentações

A dose certa de humor: como usar em apresentações

Eu tinha um colega na PUC São Paulo que era negro, o Farias, e na minha sala de trabalho, tem uma mesa cumpriiiiiiida. Um dia, eu estava num canto da sala trabalhando quieto, junto com uma outra pessoa, e o Farias estava sozinho na outra ponta. Sozinho.

Alguém entrou na sala, virou e falou assim: “Por favor, o professor Farias?” A pessoa que estava comigo falou assim: “Aquele professor de cor lá”.

Uma frase idiota. Você não precisa identificar ninguém que está sozinho, muito menos pela cor da pele.

O Farias, que é um homem inteligente, ouviu, veio até aqui e falou o seguinte:

“Você que me chamou de homem de cor, deixa eu te explicar uma coisinha. Eu nasci negro; quando cresci, continuei negro; quando vou a praia, negro permaneço; se eu tomar um susto, negro continuarei; se eu ficar doente, negro estarei; se tomar um chute na canela, negra ela continuará; e quando eu morrer, negro eu estarei ainda.

Você nasceu rosado; quando cresceu, ficou branco; vai a praia, fica vermelho; se tomar um susto, fica amarelo; quando está doente, fica verde; se toma um chute na canela, fica roxa; e quando morrer, fica cinza. Quem é o homem de cor aqui?”

Achou a passagem acima engraçada? Eu não sei se você riu ou não, mas Mario Sergio Cortella fez um auditório inteiro gargalhar depois desta piada.

Ele não é nenhum comediante como Windersson Nunes, YouTuber brasileiro, ou Paulo Gustavo, sucesso nacional com o filme “Minha mãe é uma peça”. E nem precisa ser… Ele consegue em suas palestras e entrevistas abordar conteúdos densos e filosóficos de forma leve com seu tom bem humorado envolvendo situações rotineiras.

Isso funciona para ele, mas não necessariamente funciona para você, concorda?

É sobre isso que iremos detalhar no artigo de hoje: como encontrar o tom certo do humor que combine com sua personalidade.

Nem todo mundo sabe fazer piada

Muitas pessoas confundem que usar humor em apresentações e palestras é o mesmo que contar piadas como se fosse um stand up commedy.

Os comediantes que vemos por aí passam anos treinando raciocínio de improviso, piadas ensaiadas sobre temas polêmicos, encenações de voz e corpo para dar mais dramaticidade e apelo ao momento.

E você não vai fazer o mesmo no no dia a dia do mercado de trabalho. Então, esquece!

O exercício que iremos fazer é achar o seu tom pessoal de humor, descontração e leveza. Eu tenho certeza que quando você está junto de pessoas do seu círculo íntimo, de vez em quando você fala ou mostra algumas coisas que são engraçadas e que as pessoas riem, certo?

Pois bem, vamos dar um zoom nisso aí.

As várias formas de humor

Eu me acabo de rir com alguns memes e figurinhas que meus amigos circulam em grupos de WhatsApp!

A Netflix, o Nubank e o iFood tem perfis sociais muuuuuito famosos por suas mensagens corriqueiras ou chamadas de cupons de desconto, fazendo brincadeira com alguma notícia que esteja rodando no momento.

Eu uso a imagem acima da Netflix para falar sobre como um slide ruim pode chamar mais a atenção do que a mensagem que o orador estava passando na hora. As pessoas riem porque elas entendem o sentido e contexto.

Talvez o maior clássico da televisão brasileira sejam as Vídeo Cassetadas do Faustão. Nada mais são do que vídeos curtos de pessoas fazendo coisas estúpidas, mas tem uns tão insanos que fica difícil manter a seriedade.

Por que você não utiliza desse material como apoio em momentos da sua apresentação? Todas as sacadas cômicas não precisam ser de sua autoria. Você pode recorrer ao que já existe circulando por aí, que você já sabe que as pessoas se identificam pelo seu caráter inusitado e bem contextualizado com a dinâmica global.

Os softwares de apresentação existentes suportam imagens em formato de gif animados, vídeos, áudios, além de imagens com memes. Basta só copiar e colar (e dar créditos ao autor, quando necessário).

Você pode sempre usar uma história pessoal em que passou por um perrengue inusitado. Por ser de sua autoria e mais intimista, ajuda no processo de envolvimento com as pessoas.


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O timing certo do humor

No seu planejamento, quando você introduzir esse material de suporte, piadas ou histórias pessoais, busque sempre treinar o tempo e cadência certa para o humor parecer natural.

Quando você transitar de um slide para outro, saiba que as pessoas demoram em torno de 2 segundos para entender a mensagem que virá a seguir. Respeite esse tempo para não ficar nada atropelado.

Se estiver contando uma história pessoal, conte com calma, mostre alguns detalhes que são interessantes para construir a cena de forma completa, faça caras e bocas que você ou outra pessoa fizeram no momento, mostre energia e empolgação.


Relacionado:A construção de um “momento wooooow”.


Mantenha uma linguagem corporal leve e positiva, sorrindo quando possível. Espere as pessoas se recuperarem das gargalhadas e prossiga com sua mensagem.

O humor tem que ser relevante e íntegro

Dois cuidados que você deve ter na hora de usar esse material é manter a relevância dentro da sua narrativa e o respeito com a sua audiência.

Muitas pessoas usam piadas apenas para quebrar a atenção, mas ficam desconectadas com a mensagem principal e no fim das contas, todos notam que não passa de encheção de linguiça.

Outro erro fatal é usar o humor de forma irônica e sarcástica, de forma que acaba ofendendo parte da audiência e gerando desconforto. Aquela famosa “vergonha alheia”, já sentiu?

Estamos num mundo muito mais inclusivo, diversificado e complexo, fluido em suas (des)construções. Humor envolvendo escolha sexual, cor da pele, veganismo e proteção ambiental, situação econômica e social, problemas físicos e neurológicos e diferença de gênero deixaram de ser engraçados para muita gente.

Confiança é algo que se demora a construir, mas muito rápido para se perder. Pense nisso!


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Sou Sócio Fundador do Falatória, programa que ensina os pilares de oratória, storytelling e persuasão combinados numa lógica de comunicação pessoal altamente eficaz para se destacar em processos seletivos, vendas, reuniões corporativas, networking, trabalho em equipe, liderança e, claro, palestras.

Meus cursos e oficinas já ajudaram as carreiras de alunos dos mais variados níveis de experiência. Confira na seção de “Recomendações” no meu perfil do LinedIn os depoimentos de quem já participou.

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